quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Crise dos 80


Ontem liguei pra minha vó, para bater um papo e tal. Ela, como sempre, seguiu seu Manual de Procedimentos de Novela Mexicana e, como todas as boas mulheres da nossa familia, me disse melodramaticamente como sou uma neta malvada, que nem liga pra ela, e que já está mais do que na hora de eu ganhar um bom salário para ajudar meus pais ...e etc e tal. Bom, passando essa fase introdutória da nossa conversa, ela chorou. E dessa vez não era drama.


Minha vozinha está passando pela crise dos 80 anos. E achei justa, muito justa mesmo, a indignação dela. Não é como a crise dos 30 para as mulheres, ou a crise dos 50 para os homens. A crise dela é legitima! Em suas palavras, a mulher cheia de vida que tanto amo me disse que ela não acha correto ter uma mente tão jovem em um corpo que já não acompanha a vontade dela de viver.


Falamos sobre o quanto ela cuidou da saúde a vida toda (e cuida ainda, comendo coisinhas saudáveis e tal), dos longos passeios de bicicleta que ela fazia por toda Peruíbe até anos atrás. Então, como agora a recompensa não vem? Dores nos joelhos, bengala, falta de ar, fraqueza e tonturas não deviam ser a "consequência" de uma vida saudável.


Que resposta eu poderia dar a ela? Não sei ainda. Como dizer que esse é o processo cruel da vida sem magoá-la? Como dizer que realmente ela tem a mente muitos mais jovem do que a minha e a da minha mãe sem fazê-la sentir-se mal? Como contar que acho que provavelmente após a partida dela aqui da Terra nossos Natais se acabarão, pois ela é o espírito que une a familia? Preferi apenas dizer que eu a amo e que domingo vou almoçar com ela.


É difícil agradar a todos...na verdade, é impossível. Correria do trabalho, compromissos nos finais de semana entre outras coisas vão nos afastando do convívio familiar e sei que um dia vou sentir um tremendo arrependimento por isso, mas tenho que viver o HOJE da melhor maneira que consigo....e me esforço para fazer o melhor para todos, mas sei que a vozinha sente falta de todos a sua volta, como era na infância. Pena que os bons tempos nunca voltam.


Te amo vó!