domingo, 13 de abril de 2008

Cega por 90 minutos

Embora esse não seja o foco da instalação, foi assim que me senti durante visita ao Diálogo no Escuro, localizado no Shopping Galeria, em Campinas. Durante 90 minutos percorri cerca de 600 mts2 totalmente no escuro, com mais 5 pessoas e um guia, sendo que o último é cego.

Silvio, esse é o nome do guia, tem a minha idade, 28 anos, e perdeu a visão aos 17. Foi ele que me tranquilizou durante nosso passeio por uma floresta, cidade, barco, feira, bar, entre outras coisas que compõem a instalação e que não vou contar para não estragar o passeio de quem for lá.

O passeio começa com cada um recebendo uma bengala-guia e depois vamos para uma sala "corta-escuro", ou seja, um breu total, sem nenhum vestígio de luz. Nesse primeiro momento eu já queria sair correndo, enxergar onde estava, comecei a me sentir sufocada. Mas, foi a voz confiante de Silvio que me fez prosseguir nessa aventura no escuro, onde todos os sentidos são explorados...e a gente nem imagina o tanto de potencial que eles têm.

No final da caminhada, quando tomamos um café dialogando em um sofá (totalmente no escuro) eu já me sentia tranquila, confortável e segura. É estranho o que uma mudança brusca dos nossos sentidos pode causar.

O mais legal de tudo é que não saí de lá com qualquer sentimento de piedade, dó, nem pena. Saí sabendo que a vida pode ser aproveitada de diversas maneiras, e que é ridículo julgarmos como o outro deve se sentir por ter uma deficiência.

Em um mundo onde a aparência está em voga, onde meninas de 15 estão morrendo de anorexia e trocando uma viagem por um par de silicones, é valioso passar por uma experiência como essa e enxergar (de verdade) a beleza invisível.

Eu, que nasci com uma deficiência (paralisia facial) nunca perdi tempo sentindo pena de mim mesma, Sempre vivi tudo intensamente...e quem me conhece sabe que sou autêntica. Sendo assim, esse passeio só reforçou minha crença na beleza da alma, no poder da mente e, principalmente, que é possível ser feliz quebrando padrões rídiculos impostos pela sociedade.

Bom, para finalizar, só queria dizer que nem assim perdi o medo do escuro.

3 comentários:

Anônimo disse...

Estranho como nos sentimos de olhos fechados, realmente não conseguimos fazer nada!

A irmã do meu cunhado é cega, casada com um cego, e tem um filho de 19 anos que não é cego.

esta família é o exemplo de harmonia, pois a mulher, desde que a conheço nunca precisou de ajuda alguma, nem para combinar uma roupa. O cara é representante da empresa em que trabalha no ramo de internet. Estranho, né?

mas enfim... devemos nos aceitar como Deus nos fez, para então aceitarmos nossas adversidades, para combatermos os nossos problemas!

beijoooo

Daniel disse...

Achei muito interessante essa experiência Dri.

Lendo sua postagem fiquei imaginando se eu fosse cego, sem poder abrir os olhos por muito tempo e já bateu o desespero.

Acredito que temos diversos sentidos mesmo, mas não é do dia para a noite uqe sabemos lidar com eles. Mas sei que o maior dom do ser humano é se adaptar às suas deficiências e ao meio em que vive.

Beijos

Unknown disse...

Nossa Dri, adorei essa sua experiência, provavelmente você atingiu o objetivo dessa "peça" com a sua sensibilidade e a menira de ver, nesse caso de não ver, as coisas.

É importante a cada momento darmos valor e importância a nossa vida, e à forma em que vivemos.

E, em especial compreender o problema alheio e ter certeza que essas pessoas vivem tão bem quanto nós.

Basta saber adaptar-se às mudanças frequentes de nossas vidas.

E VIVA AS DIFERENÇAS!!!!!!!!!